Artilharia a cavalo: as temidas armas galopantes

  


A artilharia sempre fora um dos elementos mais importantes de um exército e um fator indispensável para vitórias e demonstrações de força, mas você sabia que durante muito tempo da história houveram regimentos de artilharia subornados a cavalaria? e que usavam cavalos como transporte rápido pelo campo de batalha? Bom nesse post vamos ver como funcionavam e foram criados os regimentos de artilharia a cavalo e sua função e importância no campo de batalha para os exércitos do século XVIII.

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 Origens:

 As origens dos regimentos a cavalo são controversas, embora se acredita que se originem com Gustavus Adolfos da Suécia, o rei sueco acreditava que o segredo da vitória não vinha de cargas massivas de cavalaria ou de quadrados de piqueiros, mas sim de linhas de mosqueteiros disparando simultaneamente e apoio de artilharia. Para isso o rei ordenou o desenvolvimento de peças leves que pudessem ser levadas para a batalha, disparadas rapidamente e pudessem ser movidas para onde o combate necessitasse de apoio, teve sucesso contra os poloneses e seus "hussardos" e contra os tropas católicas na Guerra dos Trinta anos, em especial na Batalha de Breitenfeld.

  Outras idéias foram criadas para superar essa necessidade como por exemplo dar peças de artilharia para regimentos de mosqueteiros montados ou subordinar as bocas de fogo aos regimentos de dragões, que em suma já atuavam como infantaria montada, mas ao usarem e transportarem os pequenos canhões perdiam sua capacidade de movimento rápido pelo campo de batalha.

 Durante o início do século XVIII, o primeiro país a usar a artilharia a cavalo regular foi o Império Russo que passou a criar regimentos inspirados nos de Gustavus da Suécia e incluir esses mesmos ao comando da cavalaria, esses regimentos recebiam o básico do treino para lutar como dragões ou seja infantaria montada e o treino avançado de artilharia que visava dar a esses cavaleiros o mesmo poder de fogo e velocidade de tiro que a artilharia regular.

 Frederico II e as Guerras Napoleônicas:

Após sofrer diversas derrotas diante dos Russos, o rei da Prússia Frederico II viu a importância dos regimentos de "artilharia ligeira", que em suma poderiam ser usados em qualquer parte do campo de batalha, por exemplo: romper as linhas com fogo de artilharia antes de dar ordem de tiro para a linha regular ou fazer o inimigo sair de formação para realizar uma grande carga de cavalaria. O primeiro regimento prussiano surgiu em 1759 no mesmo modelo russo.
 A unidade original prussiana era formada por 6 peças leves de aproximadamente 6 libras cada uma e era operada por 48 militares com três oficiais gerais cada um comandando duas peças. O regimento desmontou um grande sucesso e uma vantagem tática enorme nos campos de batalha da época. Já no início das Guerras Revolucionárias Francesas, o regimento foi reorganizado para um total de três companhias com aproximadamente 605 militares, com cada companhia operando 8 peças de 6 libras e um morteiro de 7 a 9 libras.
 Não preciso nem dizer que após a Guerra dos Sete anos, que todas as nações criaram regimentos de artilharia leve, mas sem ser a cavalo propriamente dito, após a Rússia e a Prússia usarem regimentos de artilharia montada, a França passou a usar o modelo nas reformas militares pós-guerra.
 O criador desse novo ramo da artilharia francesa foi o artilheiro, engenheiro e general francês Jean Baptiste Vaquette de Gribeauval, veterano da Guerra dos Sete anos, emprendeu uma série de missões militares a Prússia para entender como funcionavam e se organizavam os novos regimentos de artilharia montada. Ao retornar reformou a artilharia francesa com propósito de fazer canhões mais leves, fáceis de apontar e mais precisos. Ao mesmo na Grã-Bretanha o engenheiro e militar Henry Shrapnel inventou um novo tipo de granada que tornou os canhões leves ainda mais mortais.
 A popularidade deste novo ramo da artilharia alastrou-se rapidamente a outros exércitos. A Áustria organizou, em 1778, uma quantidade limitada do que chamou "artilharia de cavalaria", na qual a maioria dos membros das guarnições das bocas de fogo, iam montados numas carruagens almofadadas especialmente projetadas e chamadas de "Wursts" ("salsichas"), em vez de irem em cavalos individuais. Hanôver formou as suas primeiras batarias de artilharia de cavalaria em 1786 e o seu general Victor von Trew realizou alguns testes com elas em 1791 que demonstraram as suas elevadas velocidade e eficiência. Por esta altura, a Dinamarca já tinha também formado unidade de artilharia montada e em 1792 a Suécia formou as suas primeiras unidades regulares de artilharia a cavalo, seguida do Reino Unido em 1793 e de Portugal em 1796. 

Durante as Guerras Napoleônicas, a artilharia a cavalo irá ser usada extensivamente e eficazmente em quase todas as campanhas e grandes batalhas. O maior e, provavelmente, mais eficiente corpo de artilharia a cavalo do mundo era o do exército revolucionário francês, formado pela primeira vez em 1792. As unidades francesas estavam especialmente bem treinadas e disciplinadas, uma vez que o novo corpo se tornou muito popular e podia, assim, atrair um considerável número de recrutas. Em 1795, já tinha crescido até aos oito regimentos, cada qual composto por seis batarias de seis peças, o que o tornava na maior força de artilharia a cavalo organizada de sempre.

As unidades de artilharia a cavalo geralmente usavam bocas de fogo mais ligeiras puxadas por seis cavalos. As peças de 9 libras eram puxadas por oito cavalos e as bocas de fogo mais pesadas eram puxadas por doze. Com os cavalos individuais necessários para os oficiais, cirurgiões e outro pessoal, bem como os necessários para puxar as armas e os vagões de abastecimento, uma bataria de seis bocas de fogo poderia necessitar de entre 160 a 200 cavalos.

A artilharia a cavalo estava, normalmente sob o comando das divisões de cavalaria, mas, em algumas batalhas, como a de de Waterloo, a mesma foi usada como força de reação rápida para rechaçar ataques inimigos e apoiar a infantaria. A agilidade era muito importante para a artilharia a cavalo e o seu cavalo ideal tinha uma altura de 15 a 16 palmos, de forte complexão mas capaz de se mover rapidamente.

Declínio:

À medida que a tecnologia se desenvolvia e o poderes de fogo da infantaria e da artilharia a pé se desenvolviam, o papel da cavalaria e, consequentemente, da artilharia a cavalo começaram a declinar. A artilharia a cavalo continuou a ser usada e aperfeiçoada no início do século XX, entrando em ação durante e entre as duas guerras mundiais. Na Primeira Guerra Mundial, a Rússia, bem como outros países, equipou as batarias de artilharia das suas divisões de cavalaria com o mesmo tipo de peças de artilharia de campanha utilizadas pelas outras unidades. A França e o Reino Unido, contudo, usaram peças a cavalo especiais (respetivamente, o Canon de 75 modèle 1912 Schneider e o Ordnance QF 13 pounder).

Artilharia a cavalo britânica na África 

Artilharia a cavalo alemã em 1914


Subsequentemente, as unidades de cavalaria e de artilharia a cavalo foram rearmadas, respetivamente, com carros de combate e com bocas de fogo autopropulsadas.

Tal como na cavalaria, algumas antigas unidades de artilharia a cavalo, mantém a sua designação histórica, um dos casos mais notáveis sendo a Royal Horse Artillery (Artilharia Real a Cavalo) do Exército Britânico que, inclusive ainda mantém uma bataria cerimonial a cavalo.

 Fontes:

  • HEDBERG, Jonas (coord.), Kungliga artilleriet: Det ridande artilleriet., 1987
  • NOFI, Albert A., The Waterloo Campaign: June 1815., De Capo Press, 1993
  • HOLMES, Richard (coord.), The Oxford Companion to Military History., Oxford: Oxford University Press, 2001
  • Dicionário Enciclopédico Lello Universal (Volume I), Porto: Lello & Irmão, 2002.
  • BORGES, João Vieira, A Artilharia na Guerra Peninsular, Lisboa: Tribuna da História, 2009

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