Hussardos Alados, a resposta da Comunidade Polaco-Lituana para as armas de fogo(repost)

 


 Agindo como um fator chave a serviço dos reis polacos em suas guerras, os hussardos alados foram sem sombra de dúvida uma das mais eficientes cavalarias da história. As unidades de cavalaria sempre foram desde o período romano, o segredo para vitorias absolutas, seja entrando em carga direta com o inimigo ou ainda garantindo ou atacando as linhas de suprimentos.

Armadura dos mercenários Húngaros 


 A origem desses cavaleiros é incerta, mas se costuma associar sua origem aos nobres Húngaros que fugiram de suas terras ao fim das guerras com os otomanos, e passaram a servir os poloneses como mercenários chamados de "huszár". Os Húngaros eram cavaleiros notáveis em seu tempo e poderiam ser de extrema importância para a Polônia manter seu império.
Em 1503 o parlamento da comunidade Polaco-Lituana realiza a contratação de três unidades de hussardos da Sérvia. Existem porém, referências nos registros do tesouro polonês de que a contratação de hussardos sérvios ocorreu a partir de 1500, e é bem provável que eles já servissem no exército polonês anteriormente a esta data. Logo o recrutamento também começou entre os cidadãos poloneses e lituanos. Sendo mais ágeis que os lanceiros em armaduras anteriormente empregados, os hussardos se mostraram de vital importância nas esplêndidas vitórias polonesas em Orsza (1514) e Obertyn (1531). No reinado de Stefan Batory foram substituídos pelos lanceiros do estilo medieval no exército polonês e formaram a parte principal da cavalaria polonesa.
Muzeum Wojska Polskiego (Museu do Exército Polonês) em Varsóvia. Armadura e equipamentos dos hussardos poloneses (Towarzysz husarski), do século XVI (a placa atrás sugere que elas foram usadas na batalha de Obertyn, em 1531.

Quando Stefan Batory, um príncipe transilvano-húngaro, tornou-se rei da República das Duas Nações em 1576 ele achou que os hussardos poloneses de sua guarda real deveriam seguir o estilo das linhas croatas e húngaras, tornando-os uma formação mais pesada, tendo como principal arma uma longa lança. Por volta de 1590, a maioria das unidades de hussardos poloneses estavam formadas no mesmo estilo 'pesado' dos croatas e húngaros. Esses 'pesados' hussardos poloneses eram conhecidos em seu país como husaria.

Com a Batalha de Lubieszów, em 1577, começou a era dourada dos hussardos. Até a Batalha de Viena em 1683, os hussardos poloneses lutaram em incontáveis ações contra uma variedade de inimigos e raramente perdiam uma batalha. Nas batalhas de Byczyna (1588), Kokenhusen (1601), Kircholm (1605), Kłuszyn (1610), Gniew (1626), Chocim(1673) e Lwów (1675), os hussardos poloneses provaram ser o fator decisivo geralmente contra forças mais numerosas.

Como uma das pouquíssimas unidades do exército regular polonês (a maioria das outras unidades eram formadas como levée en masse), os hussardos eram bem treinados e bem equipados. Eram armados com um sabre, uma longa espada (para a luta sobre o cavalo), um machado de guerra, duas pistolas, uma lança de seis metros de comprimento com uma bandeirola e estavam às vezes armados com uma carabina ou arco e flechas.

Armadura de Hussardo alado, Museu do 
Exército Polonês.

Até o século XVIII, eles eram considerados a elite das forças armadas polonesas. Por causa da fama e prestígio que cercaram os hussardos, muitos deles foram aceitos na nobreza. Embora no século XVIII sua importância tenha diminuído pela introdução de modernas armas de fogo de infantaria e artilharia de tiro rápido, as táticas dos hussardos poloneses e armamento permaneceram quase inalterados e portanto, inadequadas. Quando eles finalmente foram dispensados em 1776 suas tradições foram oficialmente transferidas para os Uhlans.

Diferentemente de seus parceiros mais ligeiros, os hussardos poloneses eram utilizados como cavalaria pesada para quebrar a linha de ataque da infantaria ou cavalaria inimiga. Sua forma habitual de ataque era fazer uma rápida investida em formação compacta. Se o primeiro ataque falhasse, eles voltavam para suas tropas de apoio que os re-equipavam com lanças novas, e então voltavam a atacar.

A concentração de lanças quebraria a linha inimiga criando aberturas por onde as unidades que vinham logo a seguir se infiltravam. Espalhando o pânico e com o inimigo em fuga, eles podiam abatê-los com o sabre.


Os hussardos da República das Duas Nações eram também famosos pelo uso de longas 'asas' a suas costas ou presas às selas de seus cavalos. Há várias teorias para explicar o significado das asas. Segundo algumas, elas foram projetadas para anular ataques feitos através de laços atirados pelos tártaros; outra teoria sugere que o som das penas vibrando amedrontava os cavalos inimigos durante o ataque. Porém, experiências realizadas nos anos setenta não apoiam nenhuma dessas teorias. A explicação mais provável é: as asas dos hussardos, juntamente com a pele de predadores selvagens usada nas costas e lança tinham um efeito psicológico — elas faziam parte da lenda sobre os hussardos, que os colocava como criaturas mitológicas. Fazendo crer a todos os inimigos, que estes eram os hussardos terríveis e invencíveis. O rei Stefan Batory escreveu: "(...) penas e outros embelezamentos para a magnificência e o pavor dos inimigos".



A maioria dos hussardos foram recrutados na nobreza polonesa mais rica (szlachta). Cada hussardo towarzysz (“camarada”) levantava seu próprio poczet ou lança/comitiva. Vários séquitos foram combinados para formar uma bandeira (com efetivo de companhia ou regimento) ou empresa de hussardos (chorągiew husarska).

Os towarzysz dos hussardos foram obrigados a fornecer as armas e armaduras para si e seus retentores, exceto a lança que era fornecida pelo rei ou pelo dono da bandeira. Os cavalos também eram das custas de cada towarzysz husarski.

Com o surgimento de novas táticas de artilharia o hussardos foram perdendo seu espaço na comunidade até finalmente serem abolidos pelo parlamento. Contudo hoje ainda são lembrados e vistos com orgulho como os remanescentes modernos da cavalaria medieval.

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