O Terço espanhol, a primeira infantaria que lidou com o problema de carregamento das armas de fogo

 

O Terço ou El tercio foi uma formação militar surgida na península Ibérica, no período da dinastia Habsburgo entre os séculos XVI e inicio XVIII, consistia em uma solução simples para um problema comum no século XVI, que era o tempo de recarga das primeiras armas de fogo(Arcabuz).

Sua origem vem dos lanceiros suíços, durante os anos 1400 o pique se tornou uma arma famosa no campos de batalha europeus, por ser forte contra cavalaria, fácil de organizar em formação e em geral o pique era uma arma que exigia pouco treinamento em relação a outras armas, com o advento da pólvora as formações europeias, agora tinham que lidar com outro problema o tempo de recarga das armas de fogo.

A partir dos anos 1500 os piqueiros suíços se tornaram uma das mais famosas forças militares europeias, sendo usados como mercenários por diversas nações, porém o custo mercenários era alto então, os governos que antes recrutavam soldados estrangeiros, agora treinavam piqueiros em sua própria nação.

Foram criados por Gonzalo Fernández de Córdoba "El Gran Capitán", em 1494, ele comandava as forças militares espanholas na Itália, porém a registros anteriores que dizem que essa organização começou ainda durante a época da Reconquista Ibérica, os reis de Aragão e de Castela, durante a conquista de Granada,  adotaram o modelo suíço, sendo divididos em quatro armas espada, pique, besta e arcabuz.

Pintura mostrando o sultão Muhammad entregando Granada aos reis da Espanha.

Com o tempo os espadachins foram removidos, pouco tempo depois os besteiros também foram removidos.

Sabe-se que os primeiros terços foram criadas a partir das tropas espanholas baseadas na Itália, foram criados pelo imperador Carlos V, e Gonzalo Fernández de Córdoba, os três primeiros terços foram o de Sicília, Nápoles e Lombardia, pouco tempo depois são criados os terços de Sardenha e galés ou galeras( considerada a primeira infantaria naval do mundo chegando a atuar até mesmo na América.), esses 5 primeiros são chamados de terços velhos, as tropas montadas mais tarde são chamadas de terços novos.

Desembarque de terços espanhóis na Ilha Terceira (1593) na luta contra as forças leais a D. António I de Portugal.

Organização e táticas : Como já havia mencionado o modelo militar, implementada pelos Reis Católicos para a conquista de Granada e para as campanhas na Itália, sofreu uma forte influência do modelo suíço. As vitórias da infantaria suíça, que combateu a pé firme contra a cavalaria pesada da Borgonha numa série de batalhas campais, revolucionaram os métodos de guerra da Idade Média. Os teóricos militares da época aprenderam a lição que, quadrados de piqueiros bem formados e disciplinados, poderiam derrotar qualquer cavalaria que lhe aparecesse pela frente, Nicolau Maquiavel em seu livro A Arte da Guerra afirma- " Os infantes alemães armados dessa maneira poderiam enfrentar e vencer qualquer cavaleiro"

A eficácia em combate, dos terços espanhóis, baseava-se num sistema de armas que unia a arma branca (o pique) à arma de fogo (o arcabuz). A superioridade do terço, em relação ao quadrado compacto suíço, estava na sua maior capacidade em subdividir-se em unidades mais móveis até chegar ao combate corpo a corpo individual. Essa fluidez tática favorecia a predisposição combativa do soldado de infantaria espanhol. Os terços lutavam geralmente formando uma espécie de quadrado, aonde um grupo de Arcabuzeiros se posiciona formando um quadrado aonde no centro da formação estariam os piqueiros, numa forma de quadrado suíço, bom os arcabuzeiros disparavam e enquanto recarregavam seriam protegidos pelos piqueiros.

Gravura de autoria desconhecida mostrando terços em formação

Em 1557, o Exército Espanhol derrotou completamente o Exército Francês na Batalha de San Quintin, aonde se provou a eficácia do terço, foi vencida da seguinte forma, o exército francês era composto em sua maioria por cavalaria, o que dava aos terços uma grande vantagem, já que sua formação compacta era forte contra cavalaria, cavaleiros por exemplo tinham nesse período a função de carga, porém isso era complicado,  pois o cavalo é um animal inteligente que não vai tentar passar uma parede de lanças, ele vai empinar e derrubar o cavaleiro.

Mas o terço não era só flores, a formação possuía suas falhas, a principal era justamente sua forma compacta, pelo fato de apesar de ser forte e eficaz contra cavaleiros era vulnerável contra artilharia, que ao fazer um disparo podia fazer a formação se desmontar, já que vamos combinar que ninguém quer levar um tiro de canhão.

Outra coisa que era um problema é a luta corpo a corpo era complicada, pois o pique tinha 3 metros então só as fileiras da frente podiam lutar, é preciso espaço para se usar a lança, coisa que a formação não proporcionava.

Gravura mostrado piqueiros em formação, note que apenas 2 de 5 podem usar a arma 

Vestimentas e armas : O equipamento dos terços variava de acordo com o tipo de soldado que vc era, já que como não executavam a mesma função não podiam usar o mesmo equipamento.

Os piqueiros usavam o pique com um comprimento de 3 m a 6 m, bem como uma espada à cintura. Segundo o seu armamento defensivo, os piqueiros dividiam-se entre "piques secos" e "piques armados" (piqueiros pesados). Os primeiros levavam meia armadura e, às vezes, capacete ou morrião. Os segundos protegiam-se com celada ou morrião, peitoral, espaldar e escarcela. A espada era indispensável para o combate corpo a corpo, sendo, normalmente de duplo fio, não medindo mais de um metro de modo a ser mais ligeira e transportável.

Os arcabuzeiros adquiriram muita importância dentro dos terços: levavam um capacete, gola de malha, colete de couro e, por vezes, peitoral e espaldar. A sua arma era o arcabuz, mas alguns carregavam espadas como arma segundaria. No equipamento incluíam-se, também, uma bandoleira para as cargas de pólvora e uma bolsa para as balas. Cada arcabuzeiro recebia uma determinada quantidade de chumbo e um molde, já que deveria ser ele a fundir as suas próprias balas. No final do século XVI, cada terço dispunha apenas de três companhias de arcabuzeiros - consideradas subunidades de elite - formadas por soldados jovens e resistentes. Pelo seu elitismo os arcabuzeiros tinham um tratamento especial, estando dispensados de realizar guardas e recebendo um soldo maior.

Os mosqueteiros levavam um equipamento muito semelhante ao dos arcabuzeiros. A diferença estava, obviamente no armamento e no uso de um chapéu de abas largas em vez de capacete. Enquanto os últimos estavam armados com um arcabuz, os primeiros dispunham de um mosquete - arma de maior calibre e alcance, que só podia ser disparada apoiada numa forquilha assente no solo. O alcance do mosquete permitia, aos mosqueteiros, sair da formação cerrada, abrir fogo e recolher-se ao esquadrão. A sua introdução nos terços deu-se em 1567, por intermédio do duque de Alba, já que, até então só eram utilizados na defesa de praças muralhadas.

Uniforme dos terços.

O declínio: A Batalha de Rocroi, a 19 de maio de 1643 marcou o final do mito da invencibilidade dos terços espanhóis. A derrota dos terços espanhóis foi uma autêntico golpe moral sobre os soldados levando-os a um quase completo desânimo. A esta derrota, e outras posteriores, na Guerra dos Trinta Anos, associou-se a obsolescência do armamento, instrução e táticas de combate usadas pelos terços. Os terços vão perdendo as suas caraterísticas iniciais, aproximando-se das dos regimentos dos outros países europeus. Os terços espanhóis acabam por ser dissolvidos por Filipe V de Espanha em 1704, sendo substituídos por regimentos comandados por coronéis, segundo o modelo francês dos Bourbons.

Já depois de extintos em Espanha os terços ainda se mantêm na primeira linha do Exército Português - terços pagos - até 1707, quando passam a designar-se "regimentos de infantaria" e na sua segunda linha - terços auxiliares - até 1796, altura em que passam a designar-se "regimentos de milícias". Na altura da sua extinção, os terços já tinham todas as caraterísticas de regimentos, havendo apenas uma mudança na designação.

Duas coisas podem explicar o declínio dos terços, a primeira foi a invenção de armas capazes de serem recarregadas com mais agilidade, a segunda foi a invenção de canhões mais potentes capazes de desfazer sua formação compacta.

Bom essa foi a postagem que mais me deu mais trabalho , para pesquisar e achar fontes.

se vc encontrou algum erro ou equivoco me avise nos comentários 

Essa postagem ainda pode ser melhorada.

Fontes:

Terço (militar) – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Terço (militar) : definição de Terço (militar) e sinónimos de Terço (militar) (português) (sensagent.com)

livro: A arte da guerra de Maquiavel

• SOUSA, Luís Costa e, A Arte na Guerra - A Arquitectura dos Campos de Batalha no Portugal de Quinhentos, Lisboa: Tribuna da História, 2008.

Nenhuma das imagens acima me pertence